Abrir um ginásio exige muito mais do que apenas escolher os melhores equipamentos para fazer exercício físico. As tuas responsabilidades envolvem estratégias de negócio, gestão de pessoas, marketing e muitos outros desafios burocráticos.
O que é preciso para abrir um ginásio em Portugal?
1. Requisitos legais e burocráticos
Há vários requisitos obrigatórios para abrir um ginásio ao público, desde licenças, certificados e seguros.
A nível de licenças, necessita de:
- Licença de autorização de utilização do espaço para instalação desportiva. Deve ser pedida à Câmara Municipal local, que também definirá o valor a pagar pela respetiva licença. Juntamente, deve ser apresentada a declaração de responsabilidade de que as instalações cumprem as normas exigidas, bem como uma cópia do regulamento de funcionamento das instalações, planos de segurança e evacuação.
- Certificado de formação do Diretor Técnico. É obrigatório ter um Diretor Técnico com grau de licenciado na área de desporto ou da educação física. O título profissional também é válido, se obtido através de formações certificadas pelo IPDJ. A lei obriga, ainda, à afixação, em lugar visível para os atletas, da identificação do(s) Diretor(es) Técnico(s) e os respetivos horários de trabalho.
- Licença para utilização de música nas salas de aula/treino e música ambiente, a ser solicitada à AUDIOGEST. Esta autorização está sujeita ao pagamento de uma tarifa, que varia consoante as dimensões do espaço e pode ir dos 153€ aos 838€. Tem atenção aos protocolos existentes entre as diferentes entidades, como a AGAP, já que te permitem melhores condições no licenciamento e tarifário. Aqui o valor varia dos 214€ aos 995€, mas com outras vantagens.
O registo do ginásio pode ser feito presencialmente ou online. Os ginásios e espaços desportivos, enquanto atividade económica, estão sujeitos a uma classificação (CAE). Para as atividades de fitness, esta corresponde ao 93130. No entanto, tem cuidado, porque a existência de atividades como yoga, natação, banho turco ou sauna, exigem CAE secundários.
No que diz respeito a seguros, é exigido Seguro de Acidentes Pessoais e Responsabilidade Civil. Este cobre os riscos inerentes à atividade, tanto dos teus funcionários, como dos teus atletas. Também deves garantir, no mínimo, o pagamento das despesas de tratamento, incluindo internamento hospitalar, e o pagamento de indeminização por morte ou invalidez permanente, total ou parcial, por acidentes decorrentes da atividade praticada no espaço.
Apesar de não ser obrigatório para todos os espaços fitness, tens de pedir a licença de:
- Afiliado CrossFit. Se estiveres a pensar abrir uma box de CrossFit, tens de obter uma licença para utilização da marca. Para Portugal, o valor é de 2190€/ano. Para além disso, tens disponíveis 500$ (equivalente a 460€) para investires em formação de CF-L2.
- Afiliado HYROX. Se também quiseres incluir a marca HYROX no teu ginásio ou box, tens de pagar uma licença de 90€ por mês (s/impostos e taxas) ou 999€ p/temporada (s/impostos e taxas).
Outras regras importantes:
Por lei, é obrigatório a existência de sinalética de saída de emergência, assim como de extintores. O número de extintores é definido em função das dimensões do ginásio. Além disso, precisarás de um plano para situações de acidente ou incêndio, para que não haja falhas.
Com a pandemia, as questões de higiene ganharam ainda mais relevância. Por isso, assegura a limpeza e manutenção do ginásio, principalmente das casas de banho e equipamentos. Considera, também, a existência de possíveis problemas sanitários e as devidas soluções. As aulas online são uma boa estratégia para ter em qualquer altura, já que não necessitas interromper em momentos de crise sanitária. Este sistema tornou-se particularmente comum entre os estúdios PT.
Todas as instalações desportivas são, ainda, obrigadas a disponibilizar livro de reclamações e a afixar o sinal de antitabagismo. O incumprimento deste último, pode levar a uma coima até 6 000€.
Mais, de forma a garantir o bem-estar comunitário, é proibida a venda, posse ou cedência de substâncias dopantes, nomeadamente esteroides anabolizantes, no espaço desportivo.
2. Plano de Negócio
Antes de qualquer decisão, tens de definir qual é o objetivo do teu espaço. Faz um estudo do mercado e percebe para quem é que os ginásios comunicam. Esta é a primeira etapa antes de avançares com o negócio, já que é necessário perceber se existe potencial comercial na zona desejada. O personal trainer Micael Conceição destaca a importância de analisar a viabilidade do projeto antes de avançar: “Tem de ser algo sustentado com muita pesquisa. Saber quem são os nossos clientes alvo, se o local em que queremos abrir o ginásio está bem localizado, quem é a nossa concorrência, qual é o preço do nosso serviço e se coincide com a população alvo.”
Analisa as tendências do mercado, conhece o público-alvo (expectativas, poder económico e hábitos) e, naturalmente, avalia a concorrência. Só assim perceberás se o mercado já está saturado. Visita as redes sociais de outros ginásios e as suas instalações. Vê como é que estes se apresentam e posicionam na sua comunicação. Estuda as estratégias de marketing que implementam e que modalidades e serviços oferecem. Descobre qual é o público-alvo destes espaços e procura saber quais as necessidades e o que podes oferecer que ainda ninguém oferece.
A partir daqui, estabelece o tipo de espaço fitness que vais criar. Seja um ginásio tradicional, um espaço para uma especialidade ou de saúde e bem-estar, foca-te em dar sempre mais do que já está disponível.
O teu plano de negócios, deve ter toda a informação sobre a empresa e os seus objetivos. Define a tua missão, filosofia e valores. Vê qual o investimento a fazer, a longo e curto prazo. Como se trata de valores muito elevados, pode ser necessário recorrer a fontes externas de financiamento.
O Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação (IAPMEI) sugere a seguinte estrutura para o plano de negócio:
- Sumário executivo;
- História da empresa;
- Posicionamento no mercado;
- Análise de produto e projeto;
- Estratégia comercial;
- Gestão do negócio;
- Projeções financeiras;
- Investimento e conclusão.
A seguir estão alguns dos pontos mais importantes para consideração no plano e que são essenciais para começares o teu negócio.
– Espaço independente ou franchising
O tipo de ginásio a criar é uma das primeiras decisões a tomar. Será independente ou um franchising de uma cadeia já existente? Ambas as opções têm prós e contras. Para a tua escolha, deves considerar os objetivos traçados, já que esta decisão terá impactos a vários níveis, nomeadamente de orçamento.
Se optares por um espaço independente, estarás a criar a tua própria marca e todo o caminho será decidido por si, ou seja, terá mais liberdade. Por outro lado, os desafios serão maiores, uma vez que não beneficiarás de um nome já implementado no mercado.
Um ginásio franchise tem muitas vantagens. Além de poderes usar a reputação de uma marca já existente, também beneficias das suas campanhas de comunicação, preços mais competitivos e vantagens com fornecedores. Contudo, estes benefícios vêm com custos a pagar ao proprietário da marca, para além de limitações no conceito e serviços.
– Os serviços
Depois de todas as pesquisas feitas, define os serviços que irás oferecer aos teus sócios. Existem vários serviços extra pelos quais podes optar, como fisioterapia, nutrição, SPA, reabilitação ou piscina. No entanto, pondera também todas as modalidades que contas oferecer. Não olhes para o que queres ter, mas sim para o que o mercado deseja e as condições que o teu espaço permitem.
Cada serviço tem diferentes implicações de recursos, humanos e materiais, e até mesmo no CAE, como explicado anteriormente. Avalia as tuas opções antes de avançares.
– O espaço
Considera o espaço e a sua localização aquando da análise do mercado, porque terá impacto no preço das rendas, no conceito do espaço e no valor cobrado aos sócios. Durante a procura pelo espaço ideal, tem em atenção aos serviços que pensas disponibilizar.
Além das necessidades operacionais, equaciona as facilidades de acesso, estacionamento e outras comodidades atrativas para os teus clientes. Analisa a estrutura, as condições acústicas, questões de humidade e, inclusive, a existência de vizinhos, já que terá implicações nos cuidados a ter durante o horário de atividade.
A localização consiste em mais do que apenas a cidade ou região. Há todo um perfil económico e social a ter em conta, como os hábitos, cultura, locais de concentração, movimentação e opções de lazer.
Por isso, uma localização é tão boa quanto os benefícios que consegues tirar dela. Por exemplo, normalmente é benéfico que as instalações sejam em zonas de muito tráfego, inclusive a pé. Se ainda permitirem conjugar atividades interiores com exteriores, perfeito!
– Investimento e Custos
Há vários custos que deves considerar quando estiveres a preparar a abertura de um ginásio. Estas são as principais despesas iniciais:
- Questões burocráticas, principalmente com licenças;
- Imóvel (pagamento de renda ou empréstimo, mobiliário de receção, iluminação, cofres, balneários);
- Equipamentos desportivos e pavimentos;
- Equipamentos informáticos e de gestão (telefones, computadores, softwares de gestão, terminal multibanco, impressora);
- Contratação de serviços (água, luz, gás, telecomunicações, contabilidade, limpeza, marketing);
- Contratação de staff (personal trainers, professores, rececionista);
- Instalação de sistemas de ventilação e climatização, se não existirem;
- Equipamentos de proteção e segurança (kit primeiros socorros, extintores, alarmes, câmaras de vigilância).
Micael alerta precisamente para os custos com os pequenos detalhes e a relevância de ter um orçamento para orientação. “O orçamento é um aspeto bastante importante. Não focar somente no material, mas em todos os pequenos detalhes. Uns estores, uma secretária, umas cadeiras… tudo junto, vai ter um peso significativo no orçamento. Além disso, procurar saber que tipos de ajudas externas podemos ter, principalmente para jovens empreendedores.”
Podes recorrer a fontes privadas, como financiamento bancário ou business angels (investidores informais) ou perceber se existem apoios para abrir um ginásio, como apoios públicos atribuídos pelo IEFP, IAPMEI, ANJE, entre outras entidades de apoio ao empreendedorismo.
3. Plano de Marketing
Além de um plano de negócio, é importante criar um plano de marketing. Entre outros aspetos, este deve incluir a estratégia de vendas e comunicação, de forma a angariar cada vez mais sócios e a retê-los. Define bem o seu nicho – a pesquisa de mercado será uma ótima ajuda. Afinal, o que necessitas para abrir um estúdio de pilates não é o mesmo para abrir uma box de CrossFit.
O teu plano deve incluir a análise de diagnóstico, análise SWOT (Strengths/Forças, Weaknesses/Fraquezas, Opportunities/Oportunidades e Threats/Ameaças), os objetivos da marca, opções estratégicas, marketing-mix e o plano financeiro detalhado. Tenta falar com outros proprietários de espaços com ofertas semelhantes à tua. Assim, poderás recolher informações importantes com pessoas que já têm experiência.
O fitness é um mercado já muito explorado, por isso, definir uma marca forte e que represente a cultura do teu espaço, faz toda a diferença. Reforça o sentimento de comunidade e comunica os teus valores e ideais. Incorpora o branding da tua marca no teu ginásio e no equipamento. Sê consistente na tua comunicação: usa a mesma paleta de cores do logo para a decoração e mostra aos teus membros que o teu espaço é único.
Apresenta-te ao teu público! Utiliza as estratégias de marketing para fazê-lo. As redes sociais são um bom meio para partilhar conteúdos sobre o teu ginásio e a tua comunidade, enquanto informas sobre os serviços disponibilizados. Usa promoções e descontos para incentivar o teu público a inscrever-se. Um sócio satisfeito é um ótimo embaixador do teu negócio.
Mantem-te a par das tendências de comunicação e dos conteúdos que interessam ao teu público. Um plano de marketing bem estruturado e executado é essencial para o sucesso do teu negócio.